acha a razão de ser, já dividido.
São dois em um: amor, sublime selo
que à vida imprime cor, graça e sentido.
"Amor" - eu disse - e floriu uma rosa 
embalsamando a tarde melodiosa 
no canto mais oculto do jardim,
mas seu perfume não chegou a mim. 
Segredo 
A poesia é incomunicável. Fique torto no seu canto.
Não ame.
Ouço dizer que há tiroteio
ao alcance do nosso corpo.
É a revolução?o amor?
Não diga nada.
Tudo é possível, só eu impossível. 
O mar transborda de peixes. 
Há homens que andam no mar 
como se andassem na rua. 
Não conte. 
Suponha que um anjo de fogo 
varresse a face da terra 
e os homens sacrificados 
pedissem perdão. 
Não peça. 
Que pode uma criatura senão, 
entre criaturas, amar? 
amar e esquecer, 
amar e malamar, 
amar,desamar, amar? 
Sempre, e até de olhos vidrados, amar? 
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto, 
o que é entrega ou adoração expectante, 
e amar o inóspito, o áspero, 
um vaso sem flor, um chão de ferro, 
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina. 
Este o nosso destino: amor sem conta, 
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas, 
doação ilimitada a uma completa ingratidão, 
e na concha vazia do amor a procura medrosa, 
paciente, de mais e mais amor. 
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa 
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.
Quando me levantar, o céu 
estará morto e saqueado, 
eu mesmo estarei morto, 
morto meu desejo, morto 
o pântano sem acordes. 
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.
Quando os corpos passarem, 
Eu ficarei sozinho 
Desfiando a recordação 
do sincero, da viúva e do microscopista 
que habitavam a barraca 
e não foram encontrados 
ao amanhecer 
esse amanhecer 
mais noite que a noite 
No meio do caminho tinha uma pedra 
tinha uma pedra no meio do caminho 
tinha uma pedra 
no meio do caminho tinha uma pedra. 
Nunca me esquecerei desse acontecimento 
na vida de minhas retinas tão fatigadas. 
Nunca me esquecerei que no meio do caminho 
tinha uma pedra 
tinha uma pedra no meio do caminho 
no meio do caminho tinha uma pedra.
Carlos Drummond
 
Querida Amiga,
ResponderExcluirTenho andado afastado mas agora que regressei vim visitá-la e adorei esta sua coletânea de versos muito interessante.
Um beijinho muito amigo e até breve.
OBG PELA VISITA...
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